sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Montando a sua própria tela

Uma aflição comum ao pintor é o abarrotamento de seu ateliê com obras já realizadas, e que não representam mais a realidade de sua produção.
Telas com experiências mal sucedidas, tentativas de início da carreira, exercícios de cor que já cumpriram sua função, são todas telas sobre preciosos chassis que deveriam estar sendo reaproveitados para a execução de novos trabalhos.
O reaproveitamento de um chassis, principalmente quando é de primeira linha, cavilhado ou não, é quesito essencial na atividade do artista contemporâneo, preocupado não só com seu bolso, mas também com questões de reciclagem e de ambiente.
Complicado?
A boa notícia é de que é menos do que parece. 
A tela velha
O re-entelamento de um chassis, além de mais barato do que a aquisição de um novo, resolve as questões de espaço no ateliê, além de ser tarefa fácil e agradável de ser realizada.
O material não é muito, e fácil de ser encontrado:
Material necessário
  1. algodão cru de boa espessura (você pode comprar também já com um dos lados preparados para a pintura, mas comprar o cru é mais barato, e ele pode ser facilmente preparado)
  2. chave de fenda
  3. torquês
  4. grampeador para estofados (tenho o meu há vinte anos e acho que vai durar eternamente)
  5. martelo
  6. estilete
  7. pincel, tipo brocha
  8. 1 galão de verniz acrílico incolor da Metalatex, Suvinil ou equivalente. Preste atenção, porque tem que ser incolor e a base de água.
  9. 1 litro de Rodopás
  10. água e recipientes


Descartando a velha tela

O nosso primeiro passo será retirar a velha tela do chassis, aquela que não nos interessa mais aproveitar. Faça isto inicialmente com a chave de fenda, para afrouxar os grampos, e terminando de retirá-los com a torquês. Caso a tela esteja presa com pregos, você terá um pouco mais de trabalho, levantando primeiramente os pregos com a chave de fenda, e depois arrancandos com o cabo de um martelo. Se a extração dos grampos ou martelos se tornar impossível, aja na força bruta, puxando e arrancando a tela com a torquês. É claro que estamos considerando aqui que a tela é descartável, ou seja, você não a deseja mais. É muito importante que não reste ainda nenhum tecido preso no chassis.
Caso algum prego ou grampo tenha resistido a seus esforços, bata com o martelo até que se torne rente à madeira, e deixe-o lá, porque não vai nos atrapalhar...
Ao final deste processo, teremos o chassis livre da tela, e pronto para que possamos trabalhar.
Agora, está na hora de se preocupar com a tela propriamente dita. Um algodão fino fornece um suporte frágil demais e pode rasgar durante o entelamenteo.
O ideal é que o tecido seja de uma trama média, uniforme, e sem pelotas ou imperfeições. Se você trabalha profissionalmente, será interessante comprar rolos com 10 ou 50 metros com tecido já preparado. Se quiser você mesmo prepará-lo, pode adquiri-lo ao metro nas casas de tecido. Se quiser mais informações, coloque um comentário na postagem e eu lhe darei algumas dicas.
Este tecido, quando cortado, deve ter sempre uma sobra de três centímetros na virada do chassis. 
Eu explico.
Calcule, quando for corta-lo, uma sobra de 3 centímetros a mais depois que o pano alcançar a parte posterior do chassis. Assim, se a altura do chassis for de 2 centímetros, por exemplo, deixe uma sobra de três a mais, ficando com bordas de, ao todo, 5 centímetros para cada lado, para que o pano possa ser virado e preso com conforto. A melhor forma é colocar o chassis sobre o tecido antes do corte, e ver, de fato, quanta sobra é necessária para o trabalho. Se for de menos, você terá dificuldade em prendê-lo, e se for a mais, o tecido sobrará, tendendo a virar sobre si mesmo, após a operação terminada.
Com o pano cortado, centre o chassis de forma a manter a sobra igual em todos os lados. Não tenha pressa, e faça as medições com cuidado.
Prendendo os cantos
Vamos começar pelos cantos, o que fará com que a tela já fique em sua posição correta. Dobre os cantos, em ângulo reto, conforme mostra a figura acima, e fixe-os com o grampeador. Não tente, durante este processo, esticar a tela em demasia, pois isto pode causar deformações. Basta que o pano esteja liso, e corretamente posicionado. Observe que a dobra deve ser em ângulo reto, para o correto acabamento dos campos. 
Os cantos já grampeados

Começando a fixar os grampos laterais

A seguir, vamos começar a grampear lateralmente. Coloque um grampo em cada lado do chassis, mantendo sempre a mesma posição relativa. O que quero dizer é que você deve grampear o primeiro, por exemplo, ao lado esquerdo, girar o chassis, grampear o segundo também ao seu (agora) lado esquerdo, e assim por diante, até que os quatro primeiros grampos estejam colocados.
Continuando a fixar os grampos
Este processo exige que você, a cada grampo que fixe, gire o chassis, como fez na fase anterior, de maneira que todos os quatro lados do chassis estejam sempre com o mesmo número de grampos colocados. Neste momento, já é necessário o uso do torquês, para ajudar no estiramento da tela.
Usando o torquês

O segredo é puxar o tecido com o torquês, virando-o por cima do chassis, e com ele firmemente preso, fixar o grampo. Conforme novos grampos vão sendo colocados - à igual distância um do outro - você vai notar (sempre usando o torquês) que a tela está ficando mais e mais esticada.
Fixando os cantos
Terminado de fixar os grampos por todo o chassis, vai nos restar somente resolver as quinas da tela.
A quina já pronta para acabamento
 Faça isto primeiro dobrando um dos lados do tecido por sobre a quina (que foi fixada no início do processo), grampeando, e a seguir dobrando o outro lado (do mesmo canto), e repetindo a operação. Feito isto em todos os quatro cantos, a sua tela deverá estar completamente esticada. Se notar que em alguma área ela está algo frouxa, retire os grampos desta região, e com o torquês, estique novamente o tecido e repita a operação, até que a rigidez do tecido seja suficiente.
Acabamento dos cantos
O trato da superfície
Esta é a última fase da preparação da tela, indispensável para que possamos pintar sobre ela. O resultado deste tratamento é uma superfície impermeável, que possibilitá a pintura tanto à óleo, quanto em acrílico. Teoricamente seria possível pintar em acrílico sobre uma tela não tratada, mas os resultados são decepcionantes.
Evite a utilização de tintas de parede (PVA ou mesmo acrílica) para dar o acabamento. Estas tintas foram feitas para durar somente alguns anos, e não é isto que você quer para sua obra, não?
O ideal é a utilização de uma mistura de verniz acrílico transparente (eu uso da Metalatex), com Rodopás (também encontrada em lojas de tinta e de material de construção) e água, em partes iguais.
Use uma brocha de pelo de marta, um pouco mais cara, mas que não solta pelos, e que, se bem lavada ao término das sessões, dura indefinidamente.
Material para o preparo da superfície
Aqui, um pequeno macete para evitar mofo, comum em épocas ou locais mais húmidos. Misture algumas gotas de formol, que pode ser comprado hoje em dia em soluções de 5,0% em lojas de manipulação, e deixe cair algumas gotas na mistura, que como já dissemos, terá três partes iguais, de rodopás, verniz acrílico e água.
Preparando o fundo

Comece a cobrir a tela pelo fundo (por trás), o que vai ajudar no trabalho contra os micro organismos.
Feito isto, vire a tela, e dê a primeira mão na frente. Deixe secar completamente, e dê mais duas mãos.
Com a tela seca lixe com uma lixa 200, e terá uma tela com superfície quase que lisa, e preparada para a pintura.
Preparando a superfície
Caso queira um acabamento mais sofisticado, depois da primeira demão trate a tela com gesso acrílico, o que vai lhe dar a possibilidade de uma superfície muito mais doce à pincelada
Não se esqueça de limpar seu material constantemente. O carinho que você tem com seus pincéis e tudo o mais vai refletir sempre na qualidade de sua obra. E no seu bolso também, é claro.
Não se esqueça também de limpar muito bem a borda do frasco onde vai guardar a mistura preparada, pois um descuido aí vai lhe arranjar problemas na próxima vez em que tentar abri-lo. Até a próxima dica!
  • obs: Este material foi originalmente publicado em meu site, agora inativo. As fotografias estão com a resolução original.

10 comentários:

  1. Oswaldo, você é demais! Professor melhor, não há! Bjs

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  2. Olá Osvaldo.
    Pode dizer-me onde compro em Portugal o tecido já preparado com gesso para fazer a tela?

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  3. Olá Osvaldo.
    Pode dizer-me onde compro em Portugal o tecido já preparado com gesso para fazer a tela?

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  4. JPF, procure as lojas de material artístico, que lá você deve encontrar telas já preparadas. Mas o gesso propriamente você terá de comprar em separado (gesso acrílico) e aplicar na tela.

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  5. Obrigado por compartilhar tanto conhecimento.
    Qual a marca do seu grampeador de tapeceiro?
    Aguardo. Abç

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    1. André, como sempre estou a disposição para qualquer dúvida em pintura.
      Quanto ao grampeador, é um Rocama 51/A MGS. Ele vem com uma especificação 106/4mm e 106/3 mm. Deve ser a medida dos grampos. Abraços!

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  6. suas informações e dicas são muito boas, parabbens, obrigado,gostaria de saber se o rodopás é uma tinta ou selador

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  7. Oi, boa tarde! Gostaria de saber como faço para emoldurar uma tela em Canvas, que não tem espaço para colocar o chassi? É pintada até a borda e só têm 35 cm de largura! Não posso dobrar para grampear.
    Se puder me ajudar agradeço muito! Obrigada.

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  8. Boa tarde professor Oswaldo tudo bem
    Gostaria de saber qual o tipo de verniz
    Se é para madeira ou parede por favor
    Muito obrigado

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