terça-feira, 30 de julho de 2013

Vista de Point Lobos - Obra de arte do dia

"Point Lobos", oleo, 12" x 16"

De vez em quando a gente se depara com uma composição tão bem feita que se pergunta logo se o artista se utilizou da técnica de Notan em seu planejamento.
Não sei se foi o caso, mas fiz um processo de engenharia reversa, e vejam só:
A separação de valores é clara e a redução da obra à expressão mais simples não tira a sua clareza e expressividade.



sábado, 27 de julho de 2013

Uma dica importante

Como estou falando de tintas, e de experimentos, é bom que se esclareça que estou utilizando tinta acrílica, que é mais prática no que se refere à manipulação (água em vez de solventes), tempo de secagem e toxidade.
E como estou examinando a série Studio, da Pebéo, vale a pena deixar registrado o pigmento de cada uma das cores utilizadas.
Eu sei que quase ninguém dá bola para isso, mas é importante, porque só esta informação é que define a cor com a qual de fato você está trabalhando.
Como já disse antes, a mesma denominação em fabricantes diferentes não define a mesma cor. Então, para conhecer as cores com que estamos trabalhamos, vamos esclarecer quais são os seus pigmentos:
Amarelo primário: PW6 e PY74. O PW6 é o branco de titâneo, e o Y de PY74, indica que o pigmento é amarelo (yellow). Assim, o PY74 é o pigmento amarelo 74, ou Amarelo Hansa. O que tudo isto está me dizendo é que o amarelo primário da Pebéo é uma mistura de amarelo hansa com branco.
Cyan primário: PW6 e PB15:3. O PW6 a gente já sabe o que é. Quanto ao PB15:3 é o azul de ftalocianina, um pigmento sintético descoberto em 1935.
Magenta Primário: PR19 + PR146. Aqui complicou, porque o PR19 não é listado no Ralph Mayer, e quando o busquei na internet, encontrei uma referência a um pigmento dado como obsoleto. Examinando alguns magentas (inclusive o da série profissional da própria Pebéo), encontrei o PV19, que acrescido do PR146 torna a especificação mais consistente.
Isto tudo pode parecer entediante, mas se você se acostumar a examinar com que pigmentos está trabalhando a possibilidade de surpresas daqui a cinco anos com uma cor que fugiu do quadro vão ser bem menores.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Paleta primária

Experimentar em Pintura nunca é demais. E eu, que vinha usando uma paleta restrita, herdada do workshop que fiz com o Gabor Svagrik, resolvi ir mais além e radicalizar.
Por que não usar somente as cores primárias?
Azul, vermelho e amarelo. E pronto. Qualquer cor tiraria das três.
Bem, é claro, a gente tem que contar com o branco, senão não vale.
Decidida a aventura, surgiu a necessidade das primeiras decisões: Azul, mas que azul? E o vermelho, o amarelo?
Vinha usando o azul ultramarinho, e balançando nos vermelhos. Quanto aos amarelos, estava usando sempre o cádmio limão, e o ocre.
Mas não poderia ser nada disto, para que eu me mantivesse em um ponto de equilíbrio cromático.
As cores tinham que ser primárias mesmo, e o catálogo da Pebéo me ajudou na estória.
Porque a Pebéo tem o Amarelo Primário, o Cyan Primário e o Magenta Primário, que diferentemente dos outros magentas, não puxa para o azul.
Me decidi.

A primeira experiência está em um post anterior, quando testei a mistura das três cores para obter um preto cromático que me deixou satisfeito.
Depois, testei a obtenção das cores secundárias. Veja os resultados:
Obtenção do Laranja
Obtenção do Verde
Obtençao do Violeta
Utilizei a tinta da série Studio (da Pebéo), que é voltada para o estudante e para quem ainda está desenvolvendo as suas habilidades, mas nem por isto com menos qualidade. No site do fabricante pode-se encontrar a especificação dos pigmentos de cada cor, o que é uma garantia de que você não está comprando gato por lebre.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Grupo Santa Helena 1933/1944


Paisagem, Aldo Bonadei, OST, 49 x 34cm

Este grupo foi provavelmente o único grupo de pintores na história do Brasil formado por proletários o que distoava completamente das elites que compunham movimentos como o da Semana de 22. Provavelmente por isso o grupo é tão pouco conhecido. 
Mas vamos a sua história.
Em 1933 um grupo de pintores de parede e decoradores se juntavam nas escadarias da Catedral, na Praça da Sé, aguardando clientes para seus serviços, que sabiam que ali os encontrariam.
Eram em sua maioria de origem italiana, e dentre estes trabalhadores estavam Mario Zanini, Paschoal Graciano, e Francisco Rebolo Gonçalves.
Rebolo, além de freqüentar este local, também dispunha de um escritório para contratação de serviços de decoração no Ed. Scafuto, na rua 3 de dezembro.
O grupo começa em verdade a se formar, quando Rebolo muda o seu escritório para o Ed. Sta Helena na mesma Praça da Sé. Zanini passa a dividir o aluguel com Rebolo, e logo se juntam ao grupo os pintores Aldo Bonadei, Clóvis Graciano, Fúlvio Pennacchi e Manoel Martins.
Alfredo Volpi se junta ao grupo, assim como Takaoka, Ottone Zorlini e alguns outros que vieram a formar o Grupo Santa Helena.
Os artistas, além de formarem uma cooperativa informal para os seus trabalhos de pintura e decoração, costumavam freqüentar a Sociedade Paulista de Belas Artes em seus cursos noturnos de modelo vivo e, aos domingos, sair para praticar a pintura ao ar livre.
A convivência e a igualdade de origens cria uma afinidade entre estes jovens da classe trabalhadora, criando um espírito de equipe, de apoio, troca de idéias, e de coleguismo, fundamental para a formação do grupo.
Este grupo se mantém com alguma coesão até o meio da década de quarenta, quando, tal como todos os movimentos, os componentes começam a tomar, cada um, o seu caminho.



terça-feira, 23 de julho de 2013

Trecho do Paraíso - Obra de arte do dia

Vinícius Fernandes da Silva
Trecho do Paraíso
Óleo sobre canvas, 30 x 40 cm

Esta obra do Vinícius da Silva me surpreende por suas características quase que experimentais. Audaciosa a sua decisão de adotar um ponto de vista raso, quase que ao plano do solo, ao mesmo tempo em que provoca a sensação de que o observador levita, quando trás o primeiro plano até quase os seus pés.
Composição em "S" (veja Composition of Outdoor Painting, Edgar Payne), leva o observador a entrar pelo quarto inferior esquerdo da obra, levando o seu olhar até a porção média a direita, trazendo-o novamente para a esquerda, e finalmente levando-o para um escape no canto superior à direita.
Isto no entanto não acontece, graças aos valores mais altos e aos arbustos implantados em sua porção central, que nos trazem de volta ao miolo da pintura.
Parabéns ao artista.

domingo, 21 de julho de 2013

Obra de arte do dia


September Morning, Paul Chabas, 1912, Óleo sobre canvas

Paul Chabas (1869-1937) era tido como um pintor clássico, plenamente aceito pela Academia Francesa. A pintura acima parece confirmar, com sua ninfa desnuda em um ambiente mais que etéreo.
No entanto, e apesar de ter passado ao largo de movimentos como o Impressionismo e o Expressionismo, Chabas absorveu plenamente os valores da Art Noveau, e anteveu as cores e as luzes da ilustração contemporânea, tal como se pode ver pela obra abaixo.
Ninfa Loira, Paul Chabas, óleo sobre tela, 70 x 50cm.

A boa notícia é que esta obra de arte é nossa e está no MASP, Museu de Arte de São Paulo. 
Vejam esta face em detalhe:
Não tem um quê de Mangai?

p.s. Volto a falar de Paul Chabas em um post de composição.




sábado, 20 de julho de 2013

Modo esperto de mostrar sua arte

Peter Rettegi
Long Island, An Impressionist's View
eBook, Amazon.com, US $0.99

Brian Sherwin em artigo no newsletter Fine Art Reviews de hoje, 20 de julho de 2013, comenta a atitude de grupos como Der Blauer Reitter e Die Brücke, ambos alemães e expressionistas do início do século XX, que se utilizaram de uma divulgação de guerrilha, com os recursos da época.
Eles produziam livretos improvisados que distribuiam em suas exposições e em ocasiões de interesse para mostrar sua filosofia e sua arte.
Lendo este artigo lembrei-me que havia adquirido descuidadamente dois eBooks sobre a pintura em Long Island, que é uma região onde o impressionismo americano está bastante atuante.
Bem, pensei, são apenas 99 cents, e comprei os dois livros.
Examinando a minha compra, observei o meu engano. Tinha comprado um catálogo, dividido em duas partes do pintor Peter Rettegi, e não o que originalmente pretendia.
Um estágio de frustração, e depois admiração pela estratégia do artista.
O trabalho deste pintor não me desperta maior atenção, e pode ser considerado em alguns momentos até como amador. Mas o catálogo está bem feito (se não considerarmos a capa horrível), com um texto de suporte para cada uma das pinturas registradas.
O custo deve ter sido mínimo, ou nenhum.
E considerando que qualquer artista pode publicar seus catálogos desde a Amazon até na Apple Store, passando pela Saraiva, Cultura, e por aí vai, por que não se utilizar do recurso?
p.s. E quanto à minha avaliação do livro/catálogo, uma estrela.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Obra de arte do dia


Gabor Svagrik
Garrapata
Óleo sobre canvas, 11" x 14"

Dizem que você deve escolher o seu professor pela sua obra. Ou seja, para aprender a pintar, escolha um professor cuja pintura você admire.
Quando busquei um workshop de pintura, terminei me deparando com a possibilidade de fazer um online, na Tucson Art Academy. A proposta era no mínimo não convencional, com um professor examinando e criticando os meus trabalhos a milhares de quilômetros.
Resolvi dar uma olhada nas obras de arte do Gabor, e me inscrevi.
Fiz as cinco semanas do workshop online e até hoje me felicito por isso.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Viés da tinta

Resolvi fazer alguns testes com o magenta, cor com a qual até agora não estava acostumado. Para enriquecer a experiência, usei o magenta de dois fabricantes diferentes, ou seja, da Corfix e da Pebéo.
Logo no primeiro teste, quando tentava conseguir um cinza a partir da mistura do magenta com verde ftalo e branco, os resultados foram bem diferentes..
O cinza resultante, usando o magenta da Corfix, era mais frio que a mistura com o da Pebéo. Aliás, desde que tinha visto os magentas in natura, já tinha observado que eram diferentes.
Resolvi ir mais a frente com os testes, desta vez centrado na comparação entre os dois exemplares de magenta.
Will Kemp, pintor e professor inglês, sugere que você misture a tinta com branco para conhecer o seu viés, ou seja para onde a tinta aponta, se para o lado das cores mais quentes, ou o inverso.
Misturei branco com os dois magentas.

A tinta em A1 é o magenta da Corfix, e em B1, temos o magenta da Pebéo.
Quando "abrimos" a cor com branco, criando os dois rosas de baixo, vemos mais claramente a diferença. O rosa criado com o magenta da Corfix (A2) é mais frio que o rosa da Pebéo.
O que mostra afinal que, enquanto o magenta da Pebéo é puxado para um vermelho quinacridone, o outro puxa claramente para o alizarim crimson, ou seja, tende ao azul.
É uma pena que quem compra tinta nacional tem que aturar a instabilidade na cor comercializada. No caso da Pebéo, pelo menos, o site informa que a tinta Magenta Primário é constituida através dos pigmentos PR19 e PR146. Como andei cheretando no pai dos burros pintores que é o Manual do Artista (Ralph Mayer) e lá não existe o pigmento PR19, suspeito que eles estejam falando mesmo é do PV19, pigmento violeta, que junto com o PR146  (pigmento vermelho)  traduzem a cor.
Esta dificuldade com a tinta nacional continua com outras cores, porque se você mudar de fabricante, o viés da cor pode mudar também. Veja o caso abaixo:
Aqui a gente está falando do azul ftalo, ou azul ftalocianina, para falar o seu nome mais corretamente. O produto à esquerda é da Corfix (C1), enquanto que o da direita (D1), é da Acrilex.
De início, as tintas parecem extremamente parecidas, de um azul profundo, que na foto saí quase negro. Quando se mistura com branco, no entanto, nota-se claramente que há uma diferença grande entre os fabricantes. O ftalo da Corfix tem um viés para o vermelho, tornando-o uma cor mais perto do ultramarinho. O azul ftalo da Acrilex tem um comportamento mais compatível, com um viés para o verde.
Mas quem é que garante que o próximo tubo de cada uma delas vai ser igual?
Provavelmente, se conseguirem um pigmento indiano baratinho, você acha que não vão mudar a mistura? Vai esperando...
Num Brasil ideal, o Ministério da Cultura em conjunto com o Instituto de Pesos e Medidas já teria obrigado os fabricantes de tinta artística a indicar os pigmentos que utilizam. Mas isto só num Brasil ideal, né?
p.s. Vou ficar com o magenta da Pebéo. Depois posto o resultado dos testes.


domingo, 14 de julho de 2013

Cirurgião Especialista


At The River
Simon Addyman
Óleo sobre linho sobre painel
16" x 24"

Dizem que após sua equipe ter preparado o paciente na sala de cirurgia, inclusive abrindo o torax e expondo seu coração, um cirurgião entrou e solicitou um bisturi.
Com o bisturi na mão, olhou brevemente para o coração do paciente e a seguir realizou dois rápidos cortes.
Parou, olhou novamente para o seu trabalho, usou o bisturi mais uma vez, e sem dizer palavra virou-se e foi embora.
Espantado quando soube do valor que o cirurgião cobrou pelo trabalho que não tinha demorado mais do que um minuto, um residente inquiriu seu superior.
"Mas, setenta mil dólares por um minuto de trabalho?"
O seu mestre sorriu e lhe deu uma simples resposta.
"O Cirurgião estudou por vinte anos e trabalhou em sua especialidade por outros vinte. Divida este tempo pela quantidade de cortes e você verá em verdade quanto vale cada um deles."
Esta estória me veio à mente quando contemplei At The River de Simon Addyman. Eu não consultei o artista sobre o preço de sua obra. Mas seja quanto for, vale pela economia e precisão de suas pinceladas.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Obra de arte do dia

Nonchaloir (Indiferença)
John Singer Sargent
Oil on Canvas, 48 x 40 polegadas

Esta belíssima obra de arte de John Singer Sargent é um exemplo de boa composição, onde os olhos do observador são levados naturalmente para um único ponto focal.
Isto, como disse, acontece naturalmente, de forma instintiva. Mas como é que funciona?
Sargent não segue a distribuição dos terços, onde o pintor coloca o ponto de interesse na intersecção entre duas terças do quadro.
Veja abaixo:
Como pode ser observado, o ponto focal está afastado da intersecção. Portanto, não foi desta forma que Sargent trabalhou.
Outra forma de se analizar a questão seria a suposição de que o observador sempre aprecia uma obra de arte da esquerda para a direita e de cima para baixo. Isto nos levaria ao caminho mostrado no esquema a seguir, onde o olhar é conduzido diretamente para o ponto focal, e somente depois caminha pelo restante da composição.
Alguns autores, no entanto, afirmam que o observador tende a iniciar a apreciação da obra de arte por seu lado inferior a esquerda. Este outro ponto de vista nos leva a aprofundar a nossa análise.
Vamos observar o Notan desta obra.
A expressão da obra Nonchaloir somente em dois valores (preto e branco) nos mostra imediatamente como a composição de John Singer Sargent funcionou.
Três formas circulares são sugeridas ao olhar, sendo a maior a grande saia, depois a manta que envolve o busto e os braços da modelo, e finalmente a sua cabeça. 
Os círculos são adjacentes com o olhar sendo conduzido insistentemente para a cabeça da modelo.
Ao mesmo tempo em que sua cabeça é envolta por sua cabeleira, uma região de baixos valores, ela esta repousada na borda do sofá, próxima a uma faixa de valores muito mais altos.
Não há como o olhar do observador escapar.
Acho que estas observações são o bastante. No que se refere a análise eu ressalto a importância do Notan, técnica para composição tão pouco conhecida.
Dúvidas? Coloque um comentário, que eu responderei.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Obra de arte do dia

Terry Miura
Reclining on Blue
11 x 14 polegadas, oleo sobre linho sobre painel.

Para iniciar, a técnica e a habilidade de Terry Miura com certeza lhe permitiram criar esta obra em menos tempo do que poderiamos imaginar. Provavelmente é uma obra alla prima, iniciada e terminada em uma só sessão.
Mas o que eu gostaria de comentar é a questão dos planos, aqui considerados o primeiro plano, o plano intermediário e o plano de fundo, que são, respectivamente a modelo, o sofá e a parede.
Observem que a modelo foi retratada com cores quentes, contra o sofá pintado em tons azuis, o que faz a modelo ser realçada.
O que a gente observa então é que elementos retratados em tons quentes "pulam" para a frente da pintura. Este conhecimento é uma arma do pintor experiente, mas pode ser uma atrapalhação nas mãos de quem ainda está começando.
Testando a nossa regra e olhando para a parede ao fundo, dá para ver que ela está pintada em tons quentes (tal como a sombra no canto inferior a direita). Então por que os dois não se ressaltam?
Porque ambos foram pintados com valores mais baixos, o que faz com que, mesmo com cores quentes, sejam jogados para trás.
Este é um conhecimento que vale a pena registrar.
Dúvidas? Poste um comentário que eu respondo, com certeza!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Obra de arte do dia

José Salvaggio
Rio Isle Strasbourg
Óleo sobre painel, 26 x 35 cm

Esta é uma pintura Alla Prima, ou seja, pintada de uma só vez. Observem a despreocupação das pinceladas.
O ponto focal está na intersecção da terça inferior, como manda a boa técnica. Poderia ser em qualquer uma das intersecções, quando você divide o quadro horizontal e verticalmente em três pedaços iguais.
Outro ponto a ser observado é a composição radial, ou como Edgar Payne a denominou, Irradiating Line composition, em que diagonais atravessam o quadro levando o olhar do observador para o ponto focal.

domingo, 7 de julho de 2013

As três características da cor

Quem lida com a paleta sabe que a cor é delicada e trabalhosa.
Ao contrário do que o principiante pensa, a tinta não pode ser retirada do tubo e utilizada em sua forma bruta.
Não, ela tem que ser misturada. E tem que ser harmônica com a luz ambiente.
O principiante imagina que para representar um objeto parte na luz e parte na sombra é suficiente misturar um pouco de preto à cor, e para as partes iluminadas, um misturar pouco de branco resolverá.
Que engano!
O pintor experiente saberá que, se ele estiver pintando uma natureza morta onde há uma toalha vermelha estendida, o vermelho da porção iluminada deverá receber um toque de amarelo (e não de branco) e a extensão que estiver na sombra um pouco de azul, ou violeta.
Assim, na luz você esquenta a cor, enquanto que na sombra, ao contrário, você esfria.
Isto é um assunto extenso a ser discutido em outra postagem.
Voltemos à cor:
É que cada cor tem três componentes que tem que ser avaliados quando de sua utilização.
São eles o matiz, o valor e a intensidade.
O matiz é o que a gente conhece como cor, como azul, vermelho ou amarelo, por exemplo.
Matiz

 Intensidade é o nível de saturação da cor. Nos aparelhos eletrônicos nós podemos controlar esta característica, variando desde sua cor normal até o ponto em que todas as cores estão estouradas (saturadas) ou no caso contrário quando nós regulamos a imagem para ficar em somente preto e branco (saturação nula). Veja abaixo, um exemplo para o vermelho:
Saturação
E por último, e o mais difícil de trabalhar, falemos de valor.
Valor
Lembra-se daquela foto da qual tiramos toda a cor?
Pois bem, o que restou foram somente os valores. Uma escala indo do preto para o branco. As máquinas do início do século passado só eram capazes de registrar isto, criando o que conhecemos como fotos preto-e-branco.
Agora, vamos imaginar que temos uma cena parte na sombra e parte na luz. Imagine dois cubos de cor e tamanho idênticos. Coloque um deles na sombra e o outro na luz. Tome cuidado para deixá-los na mesma posição em relação a você.
Eu não acho que você vá pintá-los com as mesmas cores, não é?
Se você comparar atentamente verá que as cores do cubo que está na sombra serão um pouco mais escuras estando portanto alguns pontos abaixo na escala de valores (são nove pontos do preto até o branco na escala de valores).
Não parece tão difícil, né?
Se você tem algum software de tratamento de imagens no seu computador, experimente tirar a saturação de uma foto e observe a diferença dos valores na sombra e na luz.
Dúvidas? Pode perguntar (em qualquer língua, agora o Google permite!) e eu responderei em oswaldopullen@gmail.com.



Obra de arte do dia

Roos Schuring
Seascape Winter #18
Óleo sobre Painel, 24 x 30 cm

Roos pratica o que ela mesma chama de realismo abstrato, onde as formas estão tão dissolvidas, que se se estabelecem exatamente no limiar do reconhecimento. Vejam a carga e a expressão das pinceladas.
Vejam mais: Ela trabalha quase que só com tons de cinza e numa faixa tonal estreita. Como vocês podem ver, somente os focos de interesse tiveram seus valores rebaixados, sendo assim valorizados.
Por último, a diagonal que se projeta do quadrante superior do quadro até o canto inferior à direita demonstra onde verdadeiramente está o centro de interesse. A menção a um grupo no centro do quadrante inferior esquerdo, acrescida de uma marca ao centro, e um recorte de figura no extremo inferior esquerdo, estão ali somente para equilibrar a massa já referida no canto à direita. Se isto foi feito de forma consciente, somente a própria Ross sabe.
Visitem roosschuring.com.

sábado, 6 de julho de 2013

Obra de arte do dia


Swan Impression - Gary Holland

O Preto Cromático.

Preto está fora de moda. Pelo menos o pigmento. Hoje, trabalhamos com o que chamamos de Preto Cromático, que é a mistura das três cores primárias.
Mas de que azul, amarelo e vermelho estaríamos falando?
Amarelo de cádmio, ocre, nápolis ou limão? Será o azul ultramarinho? E o vermelho é o de cádmio, ou seria o alizarim crimson?
Para não terminar simplesmente com um marrom sujo, experimente as duas receitas abaixo.
Receita 1:
Azul da Prússia
Alizarim Crimson
e, à sua escolha, Siena, Siena queimado ou Sombra queimada.
Faça a mistura aos poucos, até você ter segurança de que o seu Preto não está puxando para o quente ou para o frio. A partir daí, vá aumentando os volumes, até conseguir o necessário para o seu uso imediato, ou para armazenar em algum recipiente vedado.
Receita 2:
Vermelho Quinacridone
Verde Phthalo
Os mesmos cuidados devem ser tomados na mistura.
Com esta segunda receita, consegui resultados que considerei mais satisfatórios.

Vai começar!

Oi. Já está na hora de criar um espaço para discussão dos problemas de quem aderiu à modalidade do Plein Air (se pronuncia pleinér). Aqui você vai encontrar dicas de mistura de tintas, de material para pintura, testes  com tintas, experiências ao ar livre, eventos de pintura para os apreciadores da paisagem e o que vocês, pintores, quiserem discutir aqui.