Uma aflição comum ao pintor é o abarrotamento de seu
ateliê com obras já realizadas, e que não representam mais a realidade de sua
produção.
Telas com experiências mal sucedidas, tentativas de início
da carreira, exercícios de cor que já cumpriram sua função, são todas telas
sobre preciosos chassis que deveriam estar sendo reaproveitados para a execução
de novos trabalhos.
O reaproveitamento de um chassis, principalmente quando é
de primeira linha, cavilhado ou não, é quesito essencial na atividade do
artista contemporâneo, preocupado não só com seu bolso, mas também com questões
de reciclagem e de ambiente.
Complicado?
A boa notícia é de que é menos do que parece.
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A tela velha |
O re-entelamento
de um chassis, além de mais barato do que a aquisição de um novo, resolve as
questões de espaço no ateliê, além de ser tarefa fácil e agradável de ser
realizada.
O material não é muito, e fácil de ser encontrado:
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Material necessário |
- algodão cru de boa espessura (você pode comprar também já
com um dos lados preparados para a pintura, mas comprar o cru é mais barato, e
ele pode ser facilmente preparado)
- chave de fenda
- torquês
- grampeador para estofados (tenho o meu há vinte anos e
acho que vai durar eternamente)
- martelo
- estilete
- pincel, tipo brocha
- 1
galão de verniz acrílico incolor da Metalatex, Suvinil ou
equivalente. Preste atenção, porque tem que ser incolor e a base de água.
- 1
litro de Rodopás
- água e recipientes
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Descartando a velha tela |
O nosso primeiro passo será retirar a velha tela do
chassis, aquela que não nos interessa mais aproveitar. Faça isto inicialmente com
a chave de fenda, para afrouxar os grampos, e terminando de retirá-los com a
torquês. Caso a tela esteja presa com pregos, você terá um pouco mais de
trabalho, levantando primeiramente os pregos com a chave de fenda, e depois
arrancandos com o cabo de um martelo. Se a extração dos grampos ou martelos se
tornar impossível, aja na força bruta, puxando e arrancando a tela com a torquês.
É claro que estamos considerando aqui que a tela é descartável, ou seja, você não
a deseja mais. É muito importante que não reste ainda nenhum tecido preso no
chassis.
Caso algum prego ou grampo tenha resistido a seus
esforços, bata com o martelo até que se torne rente à madeira, e deixe-o lá,
porque não vai nos atrapalhar...
Ao final deste processo, teremos o chassis livre da tela,
e pronto para que possamos trabalhar.
Agora, está na hora de se preocupar com a tela
propriamente dita. Um algodão fino fornece um suporte frágil demais e pode
rasgar durante o entelamenteo.
O ideal é que o tecido seja de uma trama média, uniforme,
e sem pelotas ou imperfeições. Se você trabalha profissionalmente, será
interessante comprar rolos com 10 ou 50 metros com tecido já preparado. Se quiser
você mesmo prepará-lo, pode adquiri-lo ao metro nas casas de tecido. Se quiser
mais informações, coloque um comentário na postagem e eu lhe darei algumas
dicas.
Este tecido, quando cortado, deve ter sempre uma sobra de
três centímetros na virada do chassis.
Eu explico.
Calcule, quando for corta-lo, uma sobra de 3 centímetros a mais depois
que o pano alcançar a parte posterior do chassis. Assim, se a altura do chassis
for de 2 centímetros,
por exemplo, deixe uma sobra de três a mais, ficando com bordas de, ao todo, 5 centímetros para
cada lado, para que o pano possa ser virado e preso com conforto. A melhor
forma é colocar o chassis sobre o tecido antes do corte, e ver, de fato, quanta
sobra é necessária para o trabalho. Se for de menos, você terá dificuldade em
prendê-lo, e se for a mais, o tecido sobrará, tendendo a virar sobre si mesmo,
após a operação terminada.
Com o pano cortado, centre o chassis de forma a manter a
sobra igual em todos os lados. Não tenha pressa, e faça as medições com
cuidado.
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Prendendo os cantos |
Vamos começar pelos cantos, o que fará com que a tela já
fique em sua posição correta. Dobre os cantos, em ângulo reto, conforme mostra
a figura acima, e fixe-os com o grampeador. Não tente, durante este processo,
esticar a tela em demasia, pois isto pode causar deformações. Basta que o pano
esteja liso, e corretamente posicionado. Observe que a dobra deve ser em ângulo
reto, para o correto acabamento dos campos.
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Os cantos já grampeados |
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Começando a fixar os grampos laterais |
A seguir, vamos começar a grampear
lateralmente. Coloque um grampo em cada lado do chassis, mantendo sempre a
mesma posição relativa. O que quero dizer é que você deve grampear o primeiro,
por exemplo, ao lado esquerdo, girar o chassis, grampear o segundo também ao
seu (agora) lado esquerdo, e assim por diante, até que os quatro primeiros
grampos estejam colocados.
Continuando a fixar os grampos
Este processo exige que você, a cada grampo que fixe,
gire o chassis, como fez na fase anterior, de maneira que todos os quatro lados
do chassis estejam sempre com o mesmo número de grampos colocados. Neste
momento, já é necessário o uso do torquês, para ajudar no estiramento da tela.
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Usando o torquês |
O segredo é puxar o tecido com o torquês, virando-o por
cima do chassis, e com ele firmemente preso, fixar o grampo. Conforme novos
grampos vão sendo colocados - à igual distância um do outro - você vai notar (sempre
usando o torquês) que a tela está ficando mais e mais esticada.
Fixando os cantos
Terminado de fixar os grampos por todo o chassis, vai nos
restar somente resolver as quinas da tela.
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A quina já pronta para acabamento |
Faça isto primeiro dobrando um dos
lados do tecido por sobre a quina (que foi fixada no início do processo),
grampeando, e a seguir dobrando o outro lado (do mesmo canto), e repetindo a
operação. Feito isto em todos os quatro cantos, a sua tela deverá estar
completamente esticada. Se notar que em alguma área ela está algo frouxa,
retire os grampos desta região, e com o torquês, estique novamente o tecido e repita
a operação, até que a rigidez do tecido seja suficiente.
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Acabamento dos cantos |
O trato da superfície
Esta é a última fase da preparação da tela, indispensável
para que possamos pintar sobre ela. O resultado deste tratamento é uma
superfície impermeável, que possibilitá a pintura tanto à óleo, quanto em
acrílico. Teoricamente seria possível pintar em acrílico sobre uma tela não
tratada, mas os resultados são decepcionantes.
Evite a utilização de tintas de parede (PVA ou mesmo acrílica)
para dar o acabamento. Estas tintas foram feitas para durar somente alguns
anos, e não é isto que você quer para sua obra, não?
O ideal é a utilização de uma mistura de verniz acrílico
transparente (eu uso da Metalatex), com Rodopás (também encontrada em lojas de
tinta e de material de construção) e água, em partes iguais.
Use uma brocha de pelo de marta, um pouco mais cara, mas
que não solta pelos, e que, se bem lavada ao término das sessões, dura
indefinidamente.
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Material para o preparo da superfície |
Aqui, um pequeno macete para evitar mofo, comum em épocas
ou locais mais húmidos. Misture algumas gotas de formol, que pode ser comprado
hoje em dia em soluções de 5,0% em lojas de manipulação, e deixe cair algumas
gotas na mistura, que como já dissemos, terá três partes iguais, de rodopás,
verniz acrílico e água.
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Preparando o fundo |
Comece a cobrir a tela pelo fundo (por trás), o que vai
ajudar no trabalho contra os micro organismos.
Feito isto, vire a tela, e dê a primeira mão na frente.
Deixe secar completamente, e dê mais duas mãos.
Com a tela seca lixe com uma lixa 200, e terá uma tela
com superfície quase que lisa, e preparada para a pintura.
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Preparando a superfície |
Caso queira um acabamento mais sofisticado, depois da
primeira demão trate a tela com gesso acrílico, o que vai lhe dar a
possibilidade de uma superfície muito mais doce à pincelada
Não se esqueça de limpar seu material constantemente. O
carinho que você tem com seus pincéis e tudo o mais vai refletir sempre na
qualidade de sua obra. E no seu bolso também, é claro.
Não se esqueça também de limpar muito bem a borda do frasco
onde vai guardar a mistura preparada, pois um descuido aí vai lhe arranjar
problemas na próxima vez em que tentar abri-lo. Até a próxima dica!
- obs: Este material foi originalmente publicado em meu site, agora inativo. As fotografias estão com a resolução original.